segunda-feira, 24 de julho de 2017

Sépia

Te dei tudo que eu podia
Tudo que eu tinha
Tudo que cabia em mim.
As coisas ruins
Que eu não queria mais,
Todas as pessoas que eu seria,
Tudo que eu sabia,
Eu dei pra você.

Minhas informações guardadas,
As mais secretas, os medos,
Os apegos desesperados,
Meus desenhos e desejos
Bem guardados,
Eu dei tudo pra você.

Eu te dei o que você
Não queria ter.
O que nunca pediu,
Sequer teve vontade,
O que não agradava a sua vaidade,
O que agradava também,
O que moldava o teu ego.

Eu te dei amor,
E te dei dor,
E guardei rancor
Porque foi o que sobrou
Pra encaixotar.

Eu te dei tudo que eu tinha
A ponto de não conseguir mais
Me encontrar,
Ou te ligar,
Ou sequer te conhecer.
Eu não sei nada sobre você.

Eu te dei quase todos os textos que eu tinha,
As minhas palavras, as sílabas, as letras,
Quase que não me resta nada,
Quase que eu me esqueço que eu escrevo,
Fico sem nome, sem tripas,
Sem ter sobre o quê,
Sem poder.

Eu não sei mais dizer o que aconteceu
Eu não me lembro, eu não existo,
Eu desapareço e viro pó.

Mas você escreve sobre mim,
Pra eu tentar descobrir talvez
O que foi que eu te dei, afinal.
Mas com desleixo tal,
Com tamanho desgosto,
Que já te esqueço o rosto
E o meu
E se não tivesse guardadas nossas fotos
Seria como se nunca tivéssemos
Nos conhecido.

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