sábado, 4 de agosto de 2018

R.I.P.

Sinto-me cansada
E carregada
Pelo peso
Da falta de identidade
Não tenho sido ninguém
Não tenho gostos
Não tenho sustentação.

Pensei sobre você.
Sobre o teu imenso ser
E teu corpo
Que nunca me tirei da cabeça
Nunca fez sentido
Irreal como as vozes
Que ouço dormindo
Creio que nunca te toquei
E mesmo deste modo
Nunca te esqueci.

Entre meus últimos anexos
Aprendi que não posso ser,
Entre outras coisas, da bebida,
Dos cigarros meus ou nossos,
De drogas e alguns alimentos,
De alguma moça que chegue
E de qualquer outra pessoa
Que não seja você.

Tive um amor,
Se é que posso chamá-lo tal,
Uma casa, um abraço firme,
Que não tinha os teus lábios
E nunca terá.
E como morto, enterrei-o,
Meu coração, que nunca fiel,
Torna a ser completa e exclusivamente seu.
Portanto, morto também, presumo.

Não vejo sentido para continuar aqui,
Insistindo nessa existência vazia,
Cimentada e asfaltada
Sobre as veias de meus sonhos,
Sinto-me um pedaço
De uma calçada antiga,
De algo que ninguém mais conhece.
Não tenho vontade ou ambição
De viver mais um dia
E continuar aqui.

Não quero dar-te bom dia,
Te fazer feliz,
Companhia, risos,
Abraços.
Não quero estar aqui pra você.
Quero e preciso calar-me.
Sou um espírito em luto.
A cada novo dia,
Algo em mim se põe,
E não há volta.

Tenho perdido tudo
Que em mim poderia ser salvo
Alternativas e alegrias,
Possibilidades,
E maior que isso tudo,
Para sempre eu perdi você.

A partir de hoje,
Eu não quero mais ser ninguém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário