quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Gente, pessoa, eu.

Por um momento
Você adormece
E eu me vejo
Completamente sozinha
Mais uma vez.

Ninguém entende
O que pra mim significa
Faxinar de uma só vez
As sujeiras da minha infância.
Doi em tudo que sou,
Mas falar de dor
Já perdeu o sentido;
Então, talvez eu devesse falar
Sobre alergia,
Do cheiro de mofo e ácaro,
Poeira e álcool,
Que agora toma
O meu antigo quarto:
Impregnado de memórias antigas
E roupas fedendo a sabão em pó
Em sacos para doação;
Os brinquedos,
Que eu nem me dei ao trabalho de olhar.
Só fui jogando todos no mesmo buraco
No mesmo saco preto
De lixo.
Eu costumava sentir
Que era eu que devia ser jogada ali,
No lixo;
Mas em vez disso,
Minha infância apodrecida
Que vai.

Eu fico.

E eu adoeço,
Sozinha.
Faço meu almoço,
Sozinha.
Tomo vitamina C
E melhoro um pouco.
Tenho crise alérgica,
Sozinha.

E eu me levanto,
Escrevo um relatório
Sobre a minha paciente,
Concretizando que eu agora
Sou cuidadora,
E não um bebê frágil.

É um soco no estômago.

Eu faço listas,
Penso em como a casa precisa de uma limpeza,
Me sinto exausta,
Penso em como meu pai se sente
Tendo que morar aqui,
Sozinho.

Nada do que eu faço é suficiente,
As tralhas, as cartas,
A terapia,
Os remédios,
Que não mais me servem de consolo.
Agora sou só eu e eu.
Não tem mais personalidades
Depressão
Ou redenção.
Sou só eu.

E minha casa de infância
No condomínio
Que fatia por fatia,
Vai me deixando pra trás,
Vai me abandonando
Pra morrer.

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