sábado, 15 de fevereiro de 2014

Tempestade

   Era uma daquelas sextas-feiras tempestuosas, em que a libido dela se apresentava tão intensa quanto a água do lado de fora da janela. Até a maneira dela de se mover mudava. Seu tom de voz, seu ritmo. A chuva costumava provocar nela um efeito inacreditável. Ela ficava irresistivelmemte sedutora. E não precisava fazer muito. Era o prazer dela. Era como se ela vivesse em um orgasmo constante. Como se tudo fosse maravilhosamente prazeroso, e especialmente eu. Ela se encostava em mim, e dizia que me amava. O seu cheiro impregnando-se no meu corpo, na minha memória. A pele morena, sensível a toques, mas não a marcas. Os olhos castanhos e o seu olhar profundo, desafiador. Ela me olhava como quem estivesse beirando a morte, e me provocava como se isso a excitasse ainda mais. Os cabelos escuros cacheados e rebeldes. Ela não se importava se eles estavam arrumados, e tampouco se importava com o próprio comportamento. Seus cabelos eram a metáfora da sua liberdade. Suas curvas não eram nem de longe perfeitas, ou geométricas. Mas me instigavam a modelá-la como argila, acariciá-la... E quando eu a tocava, era como se nela algo se explodisse. Ela era um maremoto aprisionado num corpo irregular.
   Ela não demorou muito a se tornar um monstro sexual naquela noite. Nada muito incomum. A adrenalina de estar ali com ela era insubstituível. Ela me esgotou e prosseguiu com toda a sua tempestade até se exaurir. Só tive forças para observá-la arrastando-se entre os lençois, satisfeita. Ela sorria. Seu sorriso era sublime. Declarou que precisava de um cigarro e foi buscá-lo em sua bolsa. Tragou-o como se a nicotina fosse o seu oxigênio. Até o final de seu cigarro ela me observava. E no final demonstrou um imenso desgosto por mim e pela vida. Disse que precisava ir e foi. E não voltou nunca mais.

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