quarta-feira, 6 de outubro de 2021

Não pode rir

Flashes dissociativos às 4:27 da manhã
Eu tenho tido medo de escrever
Medo de escrever
Medo de escrever
Medo de viver
Medo de olhar pro lado e descobrir 
Que tem alguém me observando
De me ver no escuro
Uma imagem, o reflexo da minha sombra

Eu tenho pensado em todas aquelas coisas
De novo
E de novo
Estou escrevendo de novo
Como se fosse um texto novo
Como se eu fosse outra
Uma pessoa fênix
Alguém que brotasse de uma metamorfose cíclica
De uma incubação recente

Mas nada mudou

Eu sinto o fim nas minhas entranhas
Crescendo e sendo gerado no meu ventre
Nutrido no meu útero
Corrompendo minhas paredes por dentro
Me arrebentando, 
Apodrecendo os ossos da minha construção,
Demolindo meus órgãos e meu universo,
E engolindo a si mesmo,
Como uma estrela, que ao morrer se explodisse, 
E engolisse a si mesma, abrindo um buraco negro no espaço
Um buraco negro no meio de mim
O meu apocalipse

Eu sinto o medo
Forrar a minha pele
Fechar e abrir meus olhos
Como uma tempestade e ventania
Que sacudisse e batesse as janelas contra as paredes
Como a água que encharcasse toda uma cidade
Alagasse, afogasse
Atlândida
Esse é o medo me cobrindo

Eu tenho desistido todos os dias um pouco
Deprimida
Doente
Transtornada
É só um rótulo
Você não é a sua doença
Há muito mais que isso
Eles não entendem
Eles não entendem
Eles não entendem
Ninguém entende.

Eu sinto a morte respirar nos meus ouvidos
Eu sinto o bafo quente dela no meu pescoço
Quando ando à noite pela casa
Eu sinto o sopro gelado encostar meus tímpanos e me perfurar quando me deito para dormir
Eu sei que ela está ali
Me esperando

E eu estou esperando por ela

A gente tá brincando de quem vai primeiro
É tipo um jogo do sério

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