sábado, 3 de junho de 2017

Estante

Sou um livro aberto
E doi.
Porque sabem quando sou louca,
Porque sabem quanto sou triste,
Porque sabem quando me doi.
Sou um livro aberto.
Quando grito, grito,
Quando calo, calo,
E quando agonizo...
Esbarro nos outros todos.
Sou aberta, sou exposta.
Quando doi, falo que doi,
Quando me revolta,
Eu soco as paredes,
E me soco, e ao que estiver na frente.
Dá pra ver o meu sofrer de camarote.
Incomodo.
Sou um livro aberto.
Quando gargalho, a gargalhada vai longe
Machuca a alma dos infelizes,
Desconcentra os atentos,
Interfere.
Sou expansiva.
Tudo em mim é fermento,
E o bolo cresce.
Eu sou um livro aberto e doi.
Porque compulsivamente falo
E falo mais,
E como,
E luto incessantemente para ser.
Quero meu lugar, meu espaço, meu nome,
Quero existir.
E me abro livro,
Me abro a mente,
Me abro as pernas,
Abro tudo mais.
Sou um livro aberto.
Explicitamente aberto.
Mas quando não tem ninguém
Que consiga entender meu idioma...
Eu silencio
E declaro, determinadamente:
Vou virar poeira na estante,
Não volto atrás.

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