sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Maresia

Me observe matando-nos.
Sumindo contigo,
E comigo, como planejado.

Observe meu desespero insano
Ao deixar que o tempo,
Em detalhes sórdidos
Nos vá digerindo,
Por mera vingança.
Por um capricho suicida.

Delicie-se com minha auto-categorização de merecimento.
Consequências.
Hei de agir errado por escolha própria.
E colher frutos.

Ser indigna todos os dias.
Ser esquecida
Por você.

Abandona-me no cais do meu sacrifício estúpido,
E vai.
Mergulha,
Se afoga,
Se salva,
E nada.

Nada tem de novo no seu comportamento.
Nada tem de novo no meu.

Fico sentada na madeira.
As ondas se chocam nos meus pés
Gelados.
Pés de cadáver.
Tão visualmente idosos quanto as minhas teimosias.

Se fico só,
Somos eu e a maresia.
O reflexo do sol na superfície,
Onde por vezes se choca a minha carne em peso,
Impaciente.

Vá.
E sinta a vida como se eu não existisse.
Não me sinta,
Para que eu possa ser sua forma do outro lado,
Do outro lado do espelho.

Que se perca
No rastro incerto do vento,
O seu cheiro de sal,
E a areia que rabisca a minha pele.

Pela manhã,
Você me vê nascer em multicores.
E me ama, como se te bastasse.
E como se estivéssemos juntos
Na mesma dimensão.

Da dor e da melancolia,
Nossas almas entendem,
Por puro afobamento.
Por ansiedade de sentir um amor
Que só o tempo trás.

Somos unidos
Por um mesmo pensamento.
Impossível é a transcrição ao verbo
Da nossa vontade.
Inconformada.

Te fujo, e te pego na esquina
Cego como sempre.
Apaixonado.

E me pergunta:
- Onde é que você tava?

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