domingo, 18 de agosto de 2013

Nosso.

     Já não é segredo a ninguém que somos amantes. Nossa pouco discreta indecência é cúmplice, e todos nos observam de fora do cristal esférico. Minha infidelidade latente, ou latejante, e nossa inaptidão para abstinência. Você é o amante do dia, o amante da noite. Você é a representação física de todo sexo e de todo o amor que me foi negado em noites secas. Quero que hoje você não fuja do que já não é segredo a mais ninguém. Nem mesmo a ela. Está dentro de você. Esse pequeno monstrinho plantado, esse monstrinho excitado, que não resiste à minha insaciedade. Quero que hoje você apenas finja que não tem por que fingir mais nada. Eu sou toda errada, e toda abusada, mas sou desejada, e todos sabem. Você sabe. Melhor que ninguém. Sabe que à noite é você que eu quero entre minhas pernas, na minha boca, em toda minha carne. Desconfio que eles não saibam nem de longe como é se sentir assim.
     Vou te alugar por duas horas. Te tomar nos braços e te encher de ficção romântica. Nós sabemos que não é sobre isso, mesmo. Mas eu vou fingir. Vou rir como se não fosse sua. Rir como se você só fosse meu. E é realmente muito relativo isso de pertencer a alguém. Vou te tocar as mãos, os braços e a nuca. E todos vão notar mais uma vez que a cama esteve quente. E a noite foi bem longa. Inapropriada. Irrecusável.
     Vou te lançar um olhar subentendido, e esperar você não dizer nada. E estará provado que a tal telepatia já não pode ser menos. Nem que eu me vá. De novo.
     Não, não é segredo pra ninguém que estamos juntos. Mesmo escondidos de nós mesmos. Então por que mentir num dia tão bonito?

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