sábado, 16 de janeiro de 2016

Porque nem sempre alguém olha pro céu

Eu não conseguia chorar
Então o céu chorou por mim.
Eu não falava mais,
Eu não comia mais,
Eu não estava perto dos meus pais
E também não tinha a quem amar.
Eu precisava de um banho,
Mas não tomei.
Queria me deitar debaixo d'água,
Sentir a chuva me engolir,
Salivar sobre mim
Até que eu fizesse parte do chão alagado.
Permaneci onde estava, seca.
Havia algo errado e eu sabia.
Não era o enjôo, a dor de cabeça ou a fome.
Não era cansaço, eu tinha comprovado.
Eu sabia que algo estava quebrado
Dentro de mim.
Em extrema consciência de tudo,
Existir me incomodava.
Eu pensava em me machucar e em suicídio
Com uma certa frequência agora,
Eu não ia fazer nada.
Eu estava sã.
Só precisava me controlar.
Tentei escrever uns textos
Pra não me calar.
Tentei dizer o que sentia.
Tentei me alimentar,
Mas só comia bobagens.
Tentei não desejar ninguém,
Mas dei mais uma espiada em você.
E como não tinha jeito,
Saí pra beber.
Saí pra comprar farinha de rosca
Na padaria.
Saí pra me afogar na beira do mar,
Numa praia linda.
Eu era uma sereia e nem sabia.
Eu sempre achei que eu tivesse salvação.
Ainda acho.
Especialmente quando o céu me chora,
Eu sei
Que tudo pode ser melhor,
Como já é.
Se eu não pensasse no passado
Eu não saberia
Da esperança que ainda tenho
No futuro.
Mesmo que talvez
Ninguém exista além de mim.
E mesmo esperançosa,
Mesmo otimista,
Mesmo esforçada,
Às vezes toda a minha vontade
É de chorar.
Dormir, chorar, comer.
Às vezes eu sei
Que estou absolutamente só.
E às vezes só o céu me entende,
Só ele me vê.

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