segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Tosse, pulmão

Você me fez acreditar
Que morreria por mim
Que sofreria por mim
Eu nunca percebi
O que isso significava
Quando você matava os seus pulmões
Ou se afogava na dor de toda noite
Quando você partia com ela
Se eu soubesse desde o início
Nem tinha ficado
Nem tinha aparecido
Sequer tinha te respondido
Mas talvez,
Talvez isso seja culpa sua
Então devo te agradecer
Pelos oitocentos textos que escrevi
Esperando o teu retorno
Esperando que a tua existência
Desabasse ao meu redor
E reluzisse na cegueira dos meus olhos
Eu demorei
A fazer as perguntas certas
Você nunca disse que viveria por mim
Você nunca sequer insinuou
Que eu valia a pena
Você sabia que queria a morte
E se eu pudesse ir junto,
Era só um bônus
Você nunca disse que seria feliz por mim
Vai ver você tentou, eu nunca sei
Mas não importa
Porque absolutamente nada do que você fez
Foi por mim
Eu era só mais um degrau
Eu era um estranho interlocutor na internet
Agora não sou mais
Eu dizia que te amava
E agora sei que estou doente
Sei que sempre estive
E sei que você nunca se importou
Até pior, sei que você nunca foi quem conheci
Eu era louca quando nos falamos, louca
O que se pode esperar de uma pessoa
Que só enxerga as coisas
Que estão a três passos de um precipício?
Agora eu penso em me calar de novo
Porque sei que a minha doença me corroi
Porque sei que o nome que te dei é muito bonito
Mas adivinha só:
Você me enoja
Você me assusta
E quanto mais eu realmente penso
Mais eu sei que nunca seria capaz de te amar
Porque sou louca
Porque eu amaria o teu interior
Mas nunca o teu exterior
E isso parece não fazer sentido
Mas é você que se apodrece todo dia
Feito um morto-vivo,
Feito um pote esquecido no fundo da geladeira,
Feito roupa molhada amarrada num saco,
Feito aquele cheiro que faz a gente tossir
De tão insuportável
Eu sempre gostei das tuas palavras
De tudo aquilo que nunca foi real
Mas agora sinto repulsa
Como por tantos outros
Você ganha de longe, na verdade
Você é como a própria morte me acenando
Balançando os próprios braços
Pra me alcançar
Eu nunca vou voltar
Isso eu te prometo
Eu nunca vou amar
Alguém que se odeia
Eu nunca vou afundar mais uma vez
Porque eu não aguentaria
Voltar pro lugar de onde eu vim
Já fazem 5 anos
E eu venho evoluindo, eu sei
Ao contrário do que todo mundo pensa
Minha consciência às vezes vai além
Do que devia, do que se aguenta
E você continua uma porta autodestrutiva
Você é uma bomba-relógio,
Um suicida ambulante,
Você é uma causa perdida
Como eu nunca fui,
Como eu nunca vou ser
E eu vou provar pra todo mundo
Até o dia da minha morte
Que eu luto pela minha vida
Que eu quero viver
Que eu sou forte
Mesmo que eu nunca seja amada
E que todos os meus medos se realizem
No lugar dos meus desejos desesperados

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