terça-feira, 22 de novembro de 2016

Nos dois pés

Procuro uma roupa qualquer
Na pilha sobre a cama
Adquiri o hábito
De não pentear o cabelo
Não é como se o meu dia
Fosse relevante para alguém
Mas há dias em que eu queria ser lida.

Me disseram que meus textos mudaram
Não sei exatamente como, nem onde
Sei que mudaram
E como o meu capim-limão está morrendo,
Por descaso,
Talvez eu também esteja
Também por descaso, talvez,
Eu cresci.

Eu nunca escolhi direito estar aqui
Acordar de manhã pra ir à faculdade
Sentir uma fome que nunca passa
Nem com náuseas
Eu nunca escolhi ter que lutar
Todos os dias pra poder me suportar
E essa dor desesperada
Que não passa um dia
Sem vir me visitar

Mas eu escolho levantar
Mesmo contabilizando as perdas
Mesmo sabendo que a cada dia
Eu sou menos eu
E mais essa coisa,
Que toma conta de mim
Eu não sou eu.

Há uma força em mim pulsante
Grita para que eu me jogue
Meu corpo treme
Minha mente faz protesto
E me nega o resto
Eu preciso ir em direção ao que me assusta
É como aceitar a morte
É a única maneira de amar alguém.

Coragem,
Alguém diz.
Eu não conheço a voz,
Eu devo confiar?
Coragem.
Eu preciso levantar
E sair de casa.
Eu preciso amar alguém
Se eu quiser que faça sentido.
Coragem.
Eu preciso me suportar,
Se não ninguém mais vai.

Sozinha eu morro.

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