sábado, 23 de julho de 2016

Solidão

Eu tenho um sentimento
Como se tudo fosse demais e
Nada fosse suficiente

Tudo que não me mata é pouco

É preciso sacrifício para ter valor

Preciso queimar, queimar
Rasgar, doer
Agonizar

Preciso não respirar por horas
Afogada na existência
De dias e mais dias
De vida
De vida

Preciso ser invadida
Pelo pavor
Da vontade
Da ânsia de explodir
E ser mais e mais
E mais
E mais

Se não for no teu nome
No teu corpo
Nas tuas mentiras
Malditas

Se não for um esmagamento
De ossos
Um estrangular de órgãos

Se não for o suor escorrendo
E o frio me cortando a pele
E se
Não for a tua voz
Me desfazendo

Se não for tu
Em tuas agonias
Vadias
Constantes

Se não for a raiva
E a angústia
Que só têm os casais

Se não for o impacto

Se não formos nós

Nunca
Nem aí
Nem cá
Nem lá

Será algo
Outro algo
Outra dor da falta
Que há de me transbordar

Talvez não sejam os dias
Pesados
Um exausto
Cotidiano

Mas e se forem os bares
Talvez sejam

Se forem as drogas
E os sorvetes
E as cartas de suicídio

E se forem os cortes
E as canções
E os lugares
Tão silenciosos
Que perfuram
Dor e dor
Por dentro, por fora
Por tudo
Ao redor

E se for o sexo sujo
Nos becos
Na mesma cama de sempre
Violada
Pela heresia
Do desamor

Se forem os cigarros
Que regem
O desabar de minha
Respiração

Não eu
Não tu
Não nós
Ninguém mais

Nem as substâncias
Lugar algum
Atividades?

Ir e vir
Afobado
Fobia
Do mundo

Será alguma coisa
Será
Será
Será?

Se eu correr numa praia de noite
Um ato desesperado

Talvez eu afunde
E seja

Talvez eu só saiba
Despencar
Mais uma vez
Talvez eu voe

E se não forem as risadas

E se elas forem todas falsas

E se não for você?
O que eu faço?

Eu corro
Eu grito
Arrumo espaço

Mas só quero
Estar apertada e apertada
Quero explodir
Bomba atômica

Um último apelo
As coisas sutis
Talvez?
Infância

Resgata
Implora
Relembra
E se for
E se for?
Não sou

E se eu fosse?

E se eu chegar a ser?

Se não for a dor
O medo
Ou euforia

Se eu não for
Insuportavelmente
Vazia

Mas se nunca tiver
Também
Companhia

A morte
Não, espero

Não espero
Não espero
Espero

Só um pouco mais



Eu juro
Pressinto
Eu juro
Prometo

Algo será

Mesmo que tu vá embora

Mesmo que eu vá

Não será
Nenhuma catástrofe

Tu recebe
Os mesmos
Empurrões 
Eu sei

E se não for

O que não será
É isso

Tudo que faltar
A falta a falta

É isso

Precisamente

Não mente
Não mente
Se eu precisar 
Será

Até

Volto logo
Mas talvez não

E se eu nunca mais voltar?
Morreremos?

Se eu morrer,
Eu sei,
É isso

Porque é a morte
Que eu venho buscando
Todos os meus dias

 Não há nenhuma outra
Que possa se comparar

Ao nascer

E como nasceria
Se não partisse?

Se não me despedaçasse em mil

Mas as tuas contrações
Me empurram pra fora
Não está na hora
Não está na hora
De sair

Acelera ao máximo
Que puder

Só assim
Posso parar
E o fim
E o fim

Perdão

Só pode ser assim

Enfim
Não é?

Não é

Mas tudo bem

Alguém disse
Uma palavra
Angustiada

Uma esperança dopada

Eu repeti
Eu repeti
Eu repeti

Mas não

Até
Até

Nunca soube meu nome
E o teu?
Até

O que é?
Se eu não me recordar...

Tem jeito?
Tem jeito?

Quem é?

Se eu deixar de ser...

 Se eu me esquecer de você

É.

Agora é

É belo
E destroi
E faz medo
E alegra
E faz dançar

E canta e grita
E contorce
E torce
Para que dê certo
Mas
Se não der

Se não der
Não dará

E se matar
E se
Matar
Será bom

Perdão

 Me perdi

Nunca soube onde estava
Nunca esteve
Acho

Não estar
Não estar

Mal estar

A falta será.
Mesmo que
Nunca vá

Talvez
Você fique pra sempre

E se for?
É.

Assim não doerá
Quando doer
Doerá
É fato

Meu parto
Não parto
Não vou
Não fatio
Não tento
Não falo

Respira
Fôlego

Pela última vez
No mesmo lugar

Será
Será
Permanecerá
Como está

Sufoque
Num agudo
Com afinco
Rabisque
Na pele
No ar

Sobreviva

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