segunda-feira, 8 de julho de 2013

A Miguel.

      Querido Miguel, às vezes eu desconfio que nunca serei capaz de amar ninguém. E não entendo de onde nasci esse paradoxo. Talvez não haja pessoa que no mundo dependa mais do amor do que eu. Se hoje eu sou assim tão necessitada, e tão cheia desses amores considerados escassos, imagina se um dia me deixam só? Realmente só. Tenho a impressão de que já fui assim um dia, meu amor. E eu sinto falta de sentir aquele vazio molhado e escuro. Já é nítido pra quem quiser enxergar que eu não sou mais a minha arte sem a verdadeira dor. A solidão. A desesperança. Só dela que nasce a felicidade extrema. Não posso viver de nada. 
       Querido, queria você aqui. Te quero comigo. Na minha cama, no meu peito, na minha vida. Mas desconfio que meu lado mau não existe mais. E você, portanto, não deveria existir. Se soubesse como me faz falta... Talvez viesse correndo me ver. Cheirando a cigarro, me olhando triste. Eu te beijaria os lábios e a testa, e passaria a mão na sua nuca. Coisas que eu gosto de fazer, você sabe. E diria que eu te amo. Que eu vou amar pra sempre. Pra logo depois pensar que não sei bem se acredito mesmo nas minhas declarações. E por alguns segundos imaginar quanto tempo deve levar até que eu te esqueça, como eu fiz com todos eles. Como eu fiz com tudo. Acho que terei alzheimer um dia. Alzheimer do coração. 
         Querido, tenho medo da desesperança. Tenho medo de deixar de vez de acreditar no amor, pois é a única coisa na qual acredito. Tenho medo de desistir por medo de ser deixada como deixo. Por medo de deixar.
          Acho que você existe pra me amar...
          Miguel, o amor da minha vida. Eu deixei que ele escolhesse seu nome porque acho que foi ele que me fez viver de novo. E ele não é você, e ninguém mais é. Você é talvez o pedaço que me falta. Como diz o protagonista romântico do livro que eu tô lendo agora. Vi seu nome no livro, sabia? Até me distraí. Tive que recomeçar a leitura do parágrafo. Tem alguma coisa errada na minha vida. Tem que ter. Sempre tem. Mas ela parece tão perfeita quanto a de qualquer um pode ser. Acontece que eu não sou qualquer uma. E não quero uma vida perfeita. Ou quero?
        Miguel querido, estou me perdendo de novo. Me salve no meu sonho onde eu fotografo os céus enquanto espero ser abraçada por trás. Me ajude a achar a minha adrenalina e recuperar a arte que me dá um talento suficiente para ser apreciado por mim mesma. Quero meus poros inquietos novamente como sob efeito daquela droga redonda e  branca como porcelana. Quero o desespero de mergulhar no meu próprio lago coberto de musgo. Quero sentir que sou alguém. Como Talita
         Acho que a matei de verdade... Acho que a matei. Sinto saudade. Não sou mais ninguém sem você, querida. Não sou mais ninguém sem você, Miguel. 
         Me salve.


Com amor, 
sua não-amada inexistente.

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