quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Os fios

Estou cansada
Dessa gente que não sabe
O que é o amor.
Estou cansada dos carros,
Dos trens, metrôs e ônibus.
Estou cansada deste caos
Que é cidade grande.
Estou cansada da impessoalidade
Dos indivíduos
Que moram todos
No mesmo lugar.
Estou cansada do medo,
E de não fazer nada
Que os outros não fariam.
Estou cansada de ver
Ninguém lutando por ninguém.
Estou cansada de me sentir
Cada vez mais desestimulada
A lutar pelo que me faz bem.
Estou cansada desse estresse do dia a dia.
Eu queria um chá pela manhã,
Ver o sol nascer.
Eu estou cansada de precisar todos os dias
De algo para me movimentar pra frente,
Algo que me faça querer viver.
Estou cansada dessa minha identidade
De coração urbano
Que quase sempre vira a madrugada.
Queria dormir
Como deveríamos dormir
Nós, os mortais.
Estou cansada do ir e vir aos mesmos pontos,
De ver as mesmas caras,
De dormir na mesma cama
E fechar a mesma janela
Por causa da poluição ou dos mosquitos.
Quero sentir o cheiro da chuva
Sem precisar chorar.
Quero chorar,
Tombar no chão quantas vezes for necessário.
Quero poder abraçar quem amo
E não tolerar essa droga que é a internet
E a distância maldita das coisas.
Quero não ser doente,
Quero ser sã, normal e zen.
Quero poder ir além
Do que eles geralmente vão
Sem precisar me comprometer
Com minha própria dor.
Eu quero uma vida,
Mesmo que vivida só dentro de mim,
Na qual eu possa existir e ser feliz.
Sem agonizar por coisa alguma,
Sem morrer de solidão,
Sem estar sempre tão ilhada de tudo.

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