segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Assassino

     Ela sentou-se em frente a ele. Os olhos entraram em sintonia, e assim os pensamentos. Observavam, mesmo com o olhar fixo, cada movimento breve, cada respiração. Ela esboçou um sorriso. Ele retribuiu. Eles conversaram por um tempo, sem dizer uma palavra. Em algum momento, ela se perguntou se ele era real, ou apenas fruto de algum cogumelo que ela comera por engano. Quebrou a conexão. Levantou-se e foi até a janela. Como ela gostava de olhar pela janela. Alguém poderia pensar que ela gostava de olhar as pessoas, ou a paisagem, mas ela gostava mesmo era de olhar para si mesma. E de alguma forma, a vista fazia o momento perfeito para poetizar internamente. Mas nem com os olhos distantes dos dele, ela podia tirá-lo de seus pensamentos. Pôde ouvi-lo se levantar também. Talvez ele soubesse dos seus pensamentos secretos. Ele veio por trás e encaixou levemente a mão direita no pescoço dela. Seu coração disparou. Ela desceu alguns milímetros as suas pálpebras. Ele pôs o braço esquerdo em volta da cintura dela. Ela levou primeiro a mão esquerda ao braço esquerdo dele, e depois fez o mesmo com a mão direita. Apenas tocou. Não forçou, puxou ou apertou. Nem mesmo cravou as unhas, sua maior tentação. Acariciou a mão que estava em seu pescoço. Ele segurou a mão dela e a desceu até sua cintura. Ela pôde senti-lo respirar em sua nuca. Fechou os olhos e sentiu o arrepio percorrer todo seu corpo. Ele apertou suavemente seus braços em torno dela. Observou a rua. Nenhum dos dois disse uma palavra. Permaneceram ali durante um bom tempo.

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