quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Janela Narcótica

  Ela deixa os cotovelos pesarem sobre o mármore da janela. Observa a lua. Suas unhas vermelhas harmonizam bem com o cigarro aceso entre os dedos. Ela dá uma tragada um pouco mais longa.

- Amor, vem pra cama. Vem aqui ficar comigo.

  Ela prende a respiração por alguns instantes e expira a fumaça devagar.

- Não.

- Turrona. Por quê?

- Não tô afim.

   Ele levanta da cama seminu e se aproxima dela pelas costas.

- Que houve?

- Não houve nada. Só me deu vontade de pular.

   Ela resolve sentar no mármore da janela. Nua.

- Você não vai pular, não é mesmo?

- Não...

   Ele a envolve pela cintura. Ela respira fundo e fecha os olhos. Dá outra tragada forte.

- Vai me dizer o que houve?

- Para de me provocar...

- Provocar? Mas que pervertida!!

   Ele aperta os braços em torno dela. Ela geme soltando a fumaça novamente.

-  Não houve nada...

   A voz dela é fraca.

- Claro que houve.

   A mão dele desce até a coxa dela.

- Desde quando eu preciso de motivo pra me estressar?

- Desde... Nunca.

   Ele aperta as duas coxas dela com força. Crava as unhas. Ela geme um pouco mais alto.

- Depois eu que sou pervertida...

   Ele leva a mão até a mão dela e toma o cigarro.

- Você devia parar de fumar.

   Ele apaga o cigarro na perna dela. Ela grita, aperta as pernas contra a parede. Segura os pulsos dele com força.

- Filho da puta.

- Mas o que foi que você disse?!

   Ela solta os braços dele e se levanta da janela. Pega o cigarro da mão dele e busca o isqueiro para reacender.

- Você ouviu.

   Ela acende o cigarro e joga o isqueiro no chão, se sentando na cama. Dá outra tragada, olhando-o nos olhos.

- Você queria que eu abusasse de você hoje, não é? Mas eu não quero. Me dê esse cigarro.

   Ele toma o cigarro da mão dela novamente e dá uma tragada tão forte que começa a tossir.

 - Ei!

- Feliz agora, meu amor?

- E você já me viu feliz, por acaso?

   Ele joga o cigarro no chão e apaga com o pé. Depois se deita na cama ao lado dela e a abraça na altura abaixo do busto.

- Você fica feliz por minha causa. Eu sei. Você não precisa admitir.

- E você me ama. É louco por mim.

- Claro que eu sou. Depois você me conta o que houve.

   Ela ri.

- Você tá de pau duro.

- Você tá nua.

- Pirracento.

- Teimosa.

- Te amo.

- Também, querida. Eu também.

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