terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Fuga

        Fugiu. Como era de sua natureza. Correu. Aquele lugar era lindo, ela percebeu um tanto confusa. Se perguntou séria o que estava fazendo ali. Sentiu-se absolutamente sozinha. Solitária. Não era novo aquele sentimento. Quase permanente. Não importava com quem estivesse, ainda se sentia sozinha. Ainda esperava cegamente o momento em que se permitiria amar de verdade. Tudo que ela tinha eram obsessões e fantasias. Ela tinha as palavras. E de que adiantavam as palavras se nunca chegavam à alma de ninguém? De que adiantavam as palavras se nada daquilo conseguia se converter em realidade? Ela queria poder sentir como seus personagens, mas desacreditava nessa possibilidade. Se prometeu acreditar apenas no que ela mesma criava, e assim vivia. Se decepcionando a cada esquina da vida. A cada elogio, um novo futuro surgia em sua mente. A cada sorriso, um novo tamanho para suas expectativas. Ela girava e dançava sobre suas ilusões, até que um toque aleatório da verdade a derrubasse. Os tombos eram dolorosos, mas ela aprendeu a gostar de estar no chão. Pelo menos até que pudesse se levantar novamente. Era tudo tão triste, ela constatou. Desejou que pudesse ser uma garota feliz. Mas ela sabia mesmo era da tristeza, e essa era a maior razão de ela estar tão longe.
      Estava acompanhada alguns minutos antes. Como ela queria a felicidade, como ela gostava da companhia... Mas era muito assustadora a possibilidade de voltar a si mesma. Portanto, decidiu que estaria mais segura se voltasse por conta própria. Não foi menos dolorosa a decisão. Agora estava ali sozinha. No meio daquela beleza silenciosa. Um lugar como aquele provavelmente a teria acalmado, em outra circunstância. Mas não naquele momento. Ela queria gritar, mas não teve força. Seu ódio de si mesma era tanto que ela acabou nem tendo força para permanecer de pé. Estava à beira de um penhasco maravilhoso. Sentou-se ali mesmo, com as pernas balançando a 3.000 metros do chão. Sem pôr as mãos no rosto, ela começou a chorar. Observando as nuvens se moverem vagarosamente, ela deixou que as lágrimas lambessem seu rosto carinhosamente. Descalçou seus sapatos com os pés. Não os ouviu tocarem o chão. Teve a ânsia conhecida de pular. Era o momento perfeito para isso. Levantou-se e pôs os dedos dos pés para fora da rocha. Respirou.

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