terça-feira, 27 de janeiro de 2015

Braile

Eu fumo dez cigarros numa noite,
Cinco hoje,
E fico tonta.

Eu bebo até ver tudo mais alegre,
Até deitar numa calçada suja,
E rebolar até o chão.

Eu tiro a roupa na frente de pessoas,
Trepo com meninos e meninas.
E te falo sobre as minhas taras.

Você me cumprimenta,
E me escuta.

Te conto sobre o amor da minha vida,
Sobre outros amigos,
E sobre a felicidade.

Você gosta.

Te peço socorro.
Te peço coisas.
Você me atende, gentil.
Me ajuda.

Você ri comigo, e fala em línguas de outros animais.
Conversamos coisas bobas sem palavras.
Você canta pra mim.

E inventa mundos onde eu posso dormir um pouco.
Onde eu posso sorrir,
Fugir desse batuque chato da solidão.

Em um dia eu surto de amor,
No outro de ódio,
E no outro de medo.
Eu digo que quero me matar,
Que eu estou muito, muito triste,
E que eu preciso que alguém seja mau comigo.

Você é paciente.
Me diz coisas boas de serem ouvidas,
E fica de guarda por mim.
Pra me proteger das coisas ruins.
As coisas que eu mesma trago comigo.

Você me lembra Miguel,
Mas eu nunca soube que ele curtia flores.
Girassois.

Você diz que me ama, apesar de.
E é mais sincero.
Muito mais.
Ou ao menos, muito convincente.

Vem de outro planeta e diz que me ama,
Do jeito que eu digo que amo alguém.
Que amo você.

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