terça-feira, 6 de janeiro de 2015

A pedra

- Me conta mais sobre ela.

  Não era a primeira vez que eu fazia esse pedido. Eu evitava, mas já fazia uns dez minutos que estávamos parados em silêncio. Eu sabia que era por causa dela que ele estava tão quieto.

- Não quero falar sobre isso agora.

  Eu quis perguntar por quê, mas não perguntei. Em vez disso eu fiz um convite. Tinha cá pra mim que ele não gostava de compartilhar qualquer coisa que dissesse respeito àquela menina. Não sei se por masoquismo, ou por afeição. Ele parecia gostar de trancar tudo bem trancado em sua caixa de pandora. E mergulhar em seus milhões de pensamentos quando fosse preciso. Era frequente essa necessidade.
  Às vezes ele saía de lá e vinha me fazer uma visita. Não sabia se era essa a ocasião.

- Vamos sair daqui?

  Ele demorou um pouco para responder.

- Oi?

- Vamos para outro lugar. Vamos, se distraia, por favor!

- É que...

  Ele não completou a frase. Acho que ele não sabia se explicar, apesar de notar os meus olhos o pressionando. Não era a minha intenção, mas era mais forte que eu.

- Apenas esqueça. Por favor, por enquanto. É tão triste ficar distante de você... Mas você é dela, eu entendo, apenas...

- Desculpa.

- Não pede desculpas, vem comigo.

  Saí correndo, meio tropeçando em meus próprios pés. Eu sempre fui uma desgraça correndo. Ele veio atrás. Encontramos uma pedra enorme. Não tinha mais ninguém ali, absolutamente ninguém. Eu nem dei atenção para a paisagem ao redor. Alternava entre olhar para as minhas mãos, para o rosto dele, e para os nossos pés. O vento batia gelado na gente. Eu comecei a cantar, e olhei pra ele para que me acompanhasse. E ele o fez.
  Ficamos ali por um tempo. Em algum momento eu comecei a contar alguma história idiota, lembrar de coisas toscas. Fizemos algumas piadas, brincadeiras, e de vez em quando eu encontrava um jeito de e encostar nele, sem que ele prestasse atenção no que eu fazia.
  Quando o sol foi embora, porque já não aguentava mais a gente, nós também fomos. Ele pra lá, eu pra cá. Ele ia ouvir o caos dela, e eu ouviria o caos de um outro moço. Eu entendia. E parecia muito pacífico sofrer depois daquela tarde, daquela folga.
  Tudo parecia bonito depois de o conhecer.
  

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