sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Antes que eu não tenha mais nada para te dizer

[te amo]
Vou te falar baixinho
Aqui, bem rápido, escondido
Sobre os sonhos que tenho sonhado
Sobre como penso em você antes de dormir
Sobre a minha tristeza que volta

Eu vou confessar, aos poucos
Que ainda guardo algo de bom em mim
Que penso que vamos ficar juntos
Mesmo depois de tudo que você fez

E aí, vou desandar a falar de tudo
Vou falar dos meus ciúmes,
Do medo de você não me amar
Porque a ama demais,
Vou falar do meu nervosismo,
Da minha vontade de ser alguém,
Do meu medo de ficar sozinha
(e de certos insetos ou incertos)
E vou falar também
De todas as coisas que já digo sempre
Que sinto saudades, que sinto raiva,
Que tenho essa ânsia de passar fome,
Que como tudo na casa,
Que queria te dar um beijo,
E depois que me masturbo
Não quero ninguém nunca mais
Vou falar até de como eu fiquei religiosa
Depois de tantas conversas que tivemos
Vou falar dos sinais e dos feitiços, de astrologia
E de como eu me lembro de você e do teu signo
Toda vez que aparece um personagem meio assim
Eu vou perguntar se você gosta de mim
Mesmo que já tenha gastado todas as minhas chances
Eu vou te contar sobre meus amores de infância
Vou te mostrar os meus diários,
Meus envelopes coloridos,
Vou te listar todos os meus amigos
E prometer te apresentar a todos eles
Vou pedir socorro mais uma vez,
Só mais uma,
Pedir que pense com carinho na minha proposta
Eu vou fazer uma aposta
Contigo, pra saber quem vai morrer primeiro
E quem vai ser infeliz até o fim

Eu vou perguntar seu nome
Como você quer ser chamado?
E a idade que você acha que tem
Eu vou concordar quando achar que você está errado
E vou me fazer de sonsa pro teu bem

Eu vou te contar os meus segredos mais secretos
Os lugares que eu ia sozinha,
As comidas que eu roubava de alguém que amava,
E os objetos bizarros cheios de valor sentimental
Eu vou te contar as estranhezas todas que tenho
Ou das coisas que fiz no meu passado
Eu vou tentar curar-me do seu lado
E fingir como ninguém estar feliz

Eu vou perguntar como está a sua família
Vou te falar da minha, mais que o necessário
Vou reclamar do nosso fusorário
E de como estou cansada o tempo inteiro
Eu vou te falar sobre todos os meus choros
Eu vou te contar todas as cicatrizes e tropeços
Eu vou te escrever poemas do lado avesso
E te ensinar a traduzir meus códigos secretos
Eu vou te dar todas as minhas senhas
Te dizer todos os meus nomes, endereços e medos
Eu vou te dizer tudo que eu conseguir me lembrar
E um pouco mais, até você me odiar

Eu vou implorar que você me perdoe
Que fique, que aguente, que permaneça aqui
Que me faça companhia
Para que eu nunca precise ir
Para aquele lugar que combinamos aos 20 anos

E em um último sussurro,
Antes que eu tenha tempo de estragar tudo
Antes que eu tenha culhões pra ir de vez
Antes que eu não tenha mais nada para te dizer
Eu te digo esse silêncio de três sílabas
Esse silêncio que só pertence a você
[/te amo]

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