quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Epílogo

Eu não vou te dar:
As minhas noites de sono,
As minhas tintas lacradas,
Os meus terríveis enganos
E as minhas portas fechadas.

Eu não vou te dar:
Os meus suspiros baldios,
A minha fé derradeira,
Minha eira e minha beira
E os meus tormentos vadios.

Eu não vou te dar:
As minhas folhas em branco,
A virgindade da minha pele,
As minhas unhas que ferem
E o meu coração franco.

Pego de volta:
O meu tempo perdido,
As minhas canções de ninar,
O meu amor aturdido
E o infinito pesar.

Eu não vou te dar:
Absolutamente nada,
Nem paciência,
Nem empatia,
Nem um resquício de compreensão.

Pensei
Em te dar
Um verso
De poesia
Adestrada,
Mas não resta simpatia,
Mas não te resta mais nada.
Eu, agora,
Saturada,
Só lembro de dizer não.

Pra você,
Toda a minha negação.

Ausência de conflitos,
De beijos aflitos,
De ânimo, de castidade, de luto.
E no meu ressentimento absoluto,
Eu te entrego tudo que me resta,
Sem festa, sem vaidade, sem jeito,
Te entrego tudo que é teu por direito,
Do velório à cova,
Da morte à prostituição.
Depois que todos os outros
Me puderem gastar até os ossos,
Te entrego os meus restos
Para te degustar a decomposição.

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