quinta-feira, 14 de maio de 2015

Divã

Não. Não vamos conversar. Eu vou sentar aqui e começar a falar sobre esse súbito sentimento de maturidade. Eu nunca consigo me prever. Eu vou e venho e a minha psicóloga nunca considera isso um retrocesso. Eu acabo no mesmo lugar, porque não resolvi. Meu problema é insolucionável.
Escrevi teu nome no uniforme colorido do meu super-heroi. Você deveria vencer a minha solidão. Desculpa. Eu devia ser um ser humano melhor do que eu sou. Às vezes eu tento, às vezes não.
Não tomei banho hoje, mas dormi bastante. Tive quatro sonhos, um deles sobre a existência. Ele me assustou. Como me assusta agora a ideia da consulta de amanhã. Rosa pediu que eu fosse de novo lá.
Meus pais ficaram preocupados. Eu não disse nada a eles. Não tinha porquê. Eles não iam poder fazer nada a respeito, de qualquer forma.
Apesar de tudo, você tem sido bom pra mim. Você se tornou um motivo e também um caminho para que eu me enxergasse melhor. Obrigada. Obrigada por ser tão parecido comigo. Obrigada por ser tão diferente de mim. Obrigada por existir independente de mim e ainda assim me fazer sentir como se eu pudesse de fato conversar com alguém. E não apenas fingir.
Às vezes eu tenho medo de interagir tanto comigo mesma. De existir só dentro de mim. A Rosa diz que isso vai me ajudar a me tornar uma boa psicóloga. Eu não acredito. Mas estou aqui, não estou?
Eu sei que em você existe esse lado sensato também. Eu sei que ele também te incomoda às vezes.
Ela me mostra que apesar de saber das coisas às vezes eu nego elas. Porque doi. Uma professora minha chama isso de "mecanismo de defesa".  E ele é comandado pelo inconsciente, eu acho. A faculdade me ensina bastante coisa. E eu gosto de aprender.
Acho que está bom por hoje. Eu disse bastante coisa. Como se existisse essa linha entre meus pensamentos e a linguagem. Como se meus sentimentos pudessem ser de fato tão claros.
Eu continuo te amando.

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