sexta-feira, 29 de maio de 2015

Psicose

Vou escrever de novo,
Porque a minha vida agora
É comer arroz.
Não há graça
Nem amor,
Nem felicidade.
E, na verdade,
Sexo também não.
O que é esperança exatamente?

Eu sou os prédios
Sempre na mesma paleta de cores;
Eu sou o cimento
Que modela o meio-fio;
Eu sou a faixa amarela
No meio da rua;
Eu sou a buzina,
Os gritos dos camelôs,
Os milhares de passos apressados;
Eu sou o trilho do trem
E os bocejos durante o trajeto,
E a dor nas costas
De ter sempre a postura errada
De desânimo,
Água em temperatura ambiente,
Chinelos gastos,
Tênis desbotados,
Carregando histórias medíocres
E bactérias;

Eu sou todas as vozes repetindo:
''Eu devia me matar,
Eu quero agora,
Mas deixa pra amanhã'';
Eu sou a ausência
Em carne e osso,
Sem desejo ou propósito,
Fingindo coisas,
Forjando metas,
Usando maquiagem,
Acessórios,
Roupas confortáveis
E palavras que não me pertencem,
Cantarolando o presságio
De morte,
Pregando a minha baixa
Autoestima
E querendo,
Na média consciência,
Salvar todos que estiverem
Na minha frente;

Eu sou o orgasmo barato
E as coisas que nunca chegam pra gente,
O ponto de ônibus,
O cinzeiro,
A mesma árvore de sempre,
No centro da cidade,
Que ninguém nota;
Eu sou a derrota
Em todas as tentativas
De ser alguma coisa,
De ser alguém.

Sou o vazio
Que o vento finge não ser
No fim de tarde de domingo
E o não estar de uma pessoa
Para outra
No fim de todas as noites
Que precedem dias
Exatamente iguais.

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