terça-feira, 5 de maio de 2015

Não cabe

Acordei e a minha cama estava um caos,
Mas eu nem pensei em arrumar.
Eu não teria tempo nem de tomar banho.
Acordei e o meu cabelo estava um caos.
E eu não ia arrumar a minha vida ainda este ano.

Me vesti e minha calça me apertava.
A vida me apertava.
Para onde ia todo o meu tempo?
Para dentro de mim, desconfio.
Talvez.
Saí de casa, e não era a calça ou o cabelo,
Não era a meia cor-de-rosa usada pela quarta vez,
Nem o casaco fedendo a gozo, de novo.
Sempre tinha algo com cheiro de gozo.

Sempre tinha a foto de alguém emoldurada
No quarto de hóspedes.
Todo dia, uma por vez, emoldurada.
Dessa vez era ele, em breve seria outro.
Eu só queria que ele passasse a noite.
Talvez aí eu arrumasse o meu quarto.
Quem sabe?

Eu tinha medo de ficar parada.
Cartão na fenda, esbarrando em todo mundo.
Mas o meu medo era quando eu esperava.
Ele só me deixava esperando.
Logo, eu não tinha uma foto.
Nem visita.
E eu tinha ainda mais medo de ficar só.

Eu acordei, peguei meu trem
Às oito e meia da manhã,
Torcendo para não querer morrer, de novo.
Esticando meu peito para caber mais gente,
Sempre mais gente.
Enquanto eu amasse,
Estaria a salvo de mim mesma.

Eu nunca soube amar fantasmas,
Não daquele tipo.
Eu nunca estaria a salvo.
Minha cama raramente estaria arrumada.
Nada pra mim era mais triste
Que o futuro e a ausência dele.

Sempre haveria um nome na porta
E nunca alguém para dormir.

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