sexta-feira, 4 de março de 2016

Os restos

Eu quero vomitar.
Perdi meu ritmo,
Meu gosto,
Meu tesão na vida,
Perdi você.
E você nunca valeu nada
Até eu te inventar
Até eu te querer.
Eu quero ir embora
Eu quero dar o fora
Nada disso importa
Nem os berros
E as pirraças
Desse monte interminável
De crianças tolas
Espertas, manipuladoras
Que se arrastam pelos corredores
Buzinando o meu ouvindo
E me atormentando
Num prazer sem fim.
Eu quero vomitar,
Porque não aguento
Passar horas sem comer
E já não acho graça
Nos cigarros e nos cortes
Também não vejo graça nos hematomas
Eu queria cair mais uma vez
Me machucar de verdade
Pra poder chorar em paz
E reclamar como todos os outros
Sem me sentir culpada
Por tudo que digo
Queria não falar sozinha constantemente
Repetidamente
Insaciavelmente
Conversando com as paredes
Que mal me escutam
Quanto mais respondem
Elas só conversam entre si
Eu nem queria estar aqui
Às vezes tenho vontade de morrer
Mas nem isso parece ser real
É tudo um enorme brinquedo
Em que eu entrei para me divertir
Mas não para de girar
E eu vou me machucando
E eu me tremo toda
Estou completamente tonta
Eu quero vomitar
Eu já não sei o que é amor
Ou compaixão sequer
Eu quero ir embora
Eu quero sumir
Pra todos eles
Que não me escutam
Que não me conhecem
Não sou mais capaz
De sentir a arte
Nem os textos, nem as vozes
Muito menos essas cores e formas clichês.
Se eu pudesse
Vomitava tudo que conhecia
Pra recomeçar do zero
E reconhecer vestígios de alegria

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