quinta-feira, 17 de março de 2016

Quando eu morava em ti

Há algo no espaço que nos ocupa
Como se houvesse alguém
Que outrora fomos
E enquanto dançamos
Pelo nosso piso iluminado
Há algo a ser condenado
E nos beijamos

Entre um passo e outro
Onde me arrasto ou canto
Eu esperava que você soubesse
Estou fugindo
Do afeto, e para não te machucar
Eu vou mentindo
Sobre tudo que te digo em dialeto

Escrevo mais um texto torto
E já é certo
Eu te quero bem por perto,
Então eu choro
Já passou mais um bom tempo
E eu demoro
A voltar a te ofertar algum alento

Ainda me lembro
Costumava apaixonar-me dentro d'água
Já não reconheço a morte
E resta a mágoa
De nunca mais te ser apaixonada

Eu queria estar errada
Ao pensar que o que me passa
Já se acaba
Faço graça,
Como louca boba que tanto se gaba
Em carregar uma tristeza ornamentada

Levanto um pouco, saio
Passo um batom vermelho,
E então eu caio
Perco não só três horas, uma noite
E estalo as minhas tranças feito açoite

Quanto mais me sou,
Mas medo tenho
Não aguento este lugar
Pra onde venho
Não sei por que tudo doi,
Mas eu te entendo
E às vezes tento,
Mas a dor é minha sina e meu segredo

Não te espero, sobretudo,
Que se vá no mundo, que suma,
Ou que pense que me deve coisa alguma
Sequer te espero que me compreenda

Sei que tu me escuta bem e é só lenda
O que dizem sobre o amor que nós fazemos

Há em nós uma rima fácil, repetida
Que de tanto recitar foi aprendida
Mas que já não faz sentido há muitos anos
E entre tantos enganos que tive
E ainda neste espaço,
Onde tu agora vive,
Quando te encosto, acalento
Eu acabo me enxergando em casa
Nossa casa, mesmo que ao relento

Nenhum comentário:

Postar um comentário