segunda-feira, 8 de junho de 2015

Miopia

Coleciono fotos tuas.
Tu não tens nome
Em toda a face da Terra.
O próprio dicionário
Desconhece o teu significado.

Talvez o ódio incutido
Na miserável raça humana
Seja capaz de me curar
Desse estado de falta,
Como deveria ter feito
A tua imagem.

Canto versos em línguas
Que teus olhos não alcançam.
Te calastes, e eu já quebro
Todas as promessas recitadas.

Não há melhoria possível
Na minha composição
Enquanto ser
Que vive atormentado,
Que seja capaz de virar o jogo,
Mudar a direção da queda d'água.

A gravidade não mente, querido.
Tudo acontece de acordo
Com a força que não pode ser contida.
Prevalece um de teus lados.
Prevalece a minha partida.

Aceitar é tão estupidamente difícil
Quando se trata dos teus fios de cabelo
E dos teus olhos perdidos.
Quando desenho os teus braços
Permanentemente rabiscados.

Como o vapor do banho quente
Faz ao espelho,
Tu deformas toda a realidade
Que te sustentava.

Eu escorro pelo vidro que forra a prata,
Tentando limpar alguma coisa,
Tentando enxergar alguma essência.
Mas embaça cada vez mais,
Embaça tudo que me impede
De te buscar.

Nada aqui existe.
Nem nós.

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