domingo, 27 de setembro de 2015

Volto depois que tiver a chance de transbordar.

Eu vou embora de mim, porque preciso.
Eu vou abraçar o silêncio, ele é o certo.
Eu vou me esconder um pouco, eu já sabia.
Tinha certeza prévia de que isso seria necessário.
Disse que te amava tantas vezes. Tantas, tantas.
Que agora já não preciso dizê-lo ou sequer estar aqui.
Esta distância é sagrada para que lembremos
Que há de fato a distância que não desejamos.
Minha mãe reza profecias:
Eu sempre estou perto ou distante demais.
Quem ainda não sabe que tudo meu é muito
Vive num mundo que de fato não existe.
A maioria das coisas soam irreais.
Eu preciso partir, preciso.
Disse algumas vezes sobre isso,
Você não compreendeu,
E não compreende muitas coisas,
Porque no fundo sabe
Que eu espero que tu me peças pra ficar.
Mas não devo ficar.
Devo ir embora.
Essa é a verdade suprema de tudo.
Espero que esteja bem, eu vou embora.
Eu sei que ainda vais me amar,
Eu vou embora.
Eu sei que nunca vou chorar como você chora.
Mas não preciso de lágrimas, vou embora.
Não há despedida que justifique
Essa partida absurda
Que Angela coordena.
É ela que compreende todas as coisas
Que antes não significavam coisa alguma.
Ela sim sabe
De toda a loucura que me cabe
Dos venenos em forma de doce
Da alternância diária
Do amor incondicional
Que só sabe reclamar o tempo inteiro
E sabe da raiva, do útero quente,
Dos abortos legais, da vontade de você,
De todas as formas que existem,
Das cores bem coloridas de fundo,
Como as de borboletas e sapos,
Como das cobras fatais das quais eu tenho medo,
E dos fios falsos de cabelo que perdoam tudo.
Angela, essa nova Angela, que tu desconheces,
Perdoa tudo que cabe, perdoa tudo que faço,
Ama com todos os lados,
Mas abraça o ódio como a todo o resto.
Id, Id, Id. Liberdade.
Eu vou embora antes que te consuma
Com minha identidade.
Eu vou embora antes que as nossas antigas rezas
Desmoronem tudo.
Eu vou embora antes que eu tenha chance
De nos afundar de novo
Você sabe onde.
Eu vou embora.
E como disse que voltaria, voltarei.
Mas vou embora.
É preciso partir todos os dias.
Abandono o método da privação,
Abandono os suicídios programados.
Uma vez um amigo me disse
Qe eu precisava ser sacra, mas profana.
Esta é Angela.
Que arde a pele cheia de radiação,
Que implora aos deuses por redenção,
Que transita entre os dois lados
Sem temer a paz ou o caos.
Tudo isto é justo.
Vou embora,
Porque preciso existir.
E quando voltar, te amarei.
Infinitamente te amarei.
Vou embora para não te machucar
E antes que você diga que não vai acontecer,
Que não devo,
Antes que se sinta obrigado a me responder,
Antes que se sufoque, se irrite,
Antes que tenha chance de tentar me segurar
Quando não quer fazer,
Eu vou embora, porque eu sei que vou.
Não faz sentido permanecer
Quando não o vejo.
Eu vou embora.
Aproveite o teu espaço
E o teu ar.

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