terça-feira, 17 de novembro de 2015

Sacristia

Poemas são poemas.
Poemas filhos da puta,
Poemas tolos,
Poemas vazios
Ainda são poemas e, portanto,
Intocáveis, sacros,
Quase satânicos de tão sublimes.

Poemas atrasam pessoas
do mundo real.
Poemas ferem o peito
dos inocentes.
Poemas nutrem o brilho
dos imprestáveis.

Poemas são poemas.
Ninguém pode concluí-los,
Ninguém pode matá-los,
Mas poemas podem ser
contaminados.

Poemas são poemas.
Esvaziam os pobres coitados,
Enfeitam as coisas feias,
Alteram o passado
E fingem um belo futuro.

Poemas são obras de arte
Que justificam
Que os apaixonados sejam
Os seres mais perigosos do mundo.

Nós, artistas,
Somos capazes dos piores feitos
E da salvação da humanidade.

Eu,
Eu vivo no meio termo.
Escrevo meus poemas tóxicos,
Extremamente sóbrios,
Ironicamente puritanos.

Eu,
Eu sou a destreza incoerente
De minhas palavras.
Eu sou a santificação da morte.
Escrevo a onipotência dos sentidos.

Eu não sou absolutamente nada
E os meus poemas também não são.

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