terça-feira, 3 de novembro de 2015

Indiferença, alvejante

Escrevo tudo que vejo
Tudo que sinto
O chão que desprezo
O ar que revisto
O meu reflexo deturpado no espelho
A feiúra desgostosa da gente
A euforia, a funebridade,
A celebração da castidade
Ou da vulgaridade inconformada
Escrevo quando estou chapada
Escrevo quando sou amada
Se isso sequer existe
Escrevo a desvantagem de ser triste
O desespero, a falha, a navalha
A fornalha onde não jogo teus textos
Pretextos inventados por mim
Para me permitir a tua falta
E quando morre, me mata
Mas não posso mais sentir
Teu gosto de sangue jorrado
Imaculado fruto da derrota
Quando não pudeste mais
Cumprir as promessas que me fazia
Logo não podias mais fazer promessas
E aí tudo se esfria, gela, racha
A superfíce do lago, polar ártico
Assim que lhe arranha a agonia,
Cede, afoga, afaga, líquido
Os alvéolos exaustos
Mas não há dor pra ser sentida
Dormente o gosto,
Dormente a partida
A vida que não tenho já se acaba
Para nascer de novo, chocada
Debaixo do calor de um preto e branco
Um garçom, um manto,
E na sobriedade a abertura
Antes que eu de novo seja
Antes que eu tenha tempo de me machucar
Me cura de nosso fim, me cura
Me perdoa os erros já previstos
Perdoa os meus desejos mal vistos
Te apaga em mim
Para que eu não perceba simplesmente
Que existe esta realidade
Onde não sou o deserto da antártida
Aqui, onde os amores
Nunca foram registrados no cartório
Nesse eterno velório
Sem velas, sem choro, sem compaixão
Sem medo, sem riso
E definitivamente
Sem perdão

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