terça-feira, 7 de abril de 2015

Pincelada

Para pintar:
Abro um dicionário,
Escolho com o dedo, olhos fechados,
A palavra.
Tiro uma ou duas letras,
Embaralho.
Por vezes adiciono alguma coisa.
Um acento, um til,
Uma contradição.

Pinto.
O pincel é pra espalhar a minha desgraça.
E esconder o sentimento organizado,
Que paira sob a pele da bagunça.

Quando criança, eu costumava
Perguntar sempre as palavras,
Não os significados.
O sentido eu já tinha,
Faltava o nome.

Eu pedia que me dissessem
A palavra certa
Pra explicar aquilo
Que só eu tinha.
"Não existe",
Me diziam.

Aprendi que nós criamos
O sentido em cima da palavra.
Faço a minha desconstrução produtiva
Crio,
Lambuzo a tela de mim,
Pra ninguém entender mesmo.
Só sentir.

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