sexta-feira, 3 de abril de 2015

Porosidade

Enfia os dedos até
onde rasga a existência.
A ponta das unhas
Dilacera a alma
Que nada protege.
A violência que paira
No dentro do próprio
Desespero, mudo.
Se tem garras, há de usá-las
Nas ocasiões erradas.
Animal,
Com gaiola em falta.
Abstinência de alimentação
Regrada.
A liberdade está do lado errado.
Não adianta o frio
E o arrepio dos orgasmos,
Nem o alento
Das risadas infantis.
A virtualidade de tudo
Que não arranca fatias
Do ser
É um espinho
No peito do pé.
Mantém do lado esquerdo
Do espaço
Todo verso e também
Todo cansaço.
Não há jeito de curar
Essa porosidade
Que permite que escapem
As coisas boas do tempo.
Não há mais argumento
Para reclamar de toda a vida,
Buscar a fuga de todo dia.
Toda morte de mentira
Que inventa é pra salvar
Da ausência do amor
Que inventou também.
A essência de morango
E o sangue.
E o potinho barato
Que só vem com coisa dentro.
Tudo isso é parte de um todo
Que se fode,
Que implode
Pra deixar tudo no lugar certo.
E não doer,
E não doer.
Os tiros que não disparam,
Os gemidos que não gritaram,
A pele que se acostuma com
O tédio do machucado.
Essas são as coisas
Que cutucam o espírito
Que insiste em procurar
Mais um fracasso
Pra não desistir,
Mas sempre falhar.

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