sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Apocalipse

Sentada na mesma sala
Assistindo um comercial de sofá
Pensando em magia negra
Eu começo a chorar
E a invasão alienígena
Disseram que vai chegar
E os cegos repetem
"Chega logo!"
"Estamos te esperando"
Estúpidos adoradores da morte
Como se eu não pensassse
Todo santo dia maldito
Em como eu vou me matar
Covardes, todos
Eles ficam esperando,
Torcendo pra acabar logo
Eu desligo o som da T.V.
Agora estão todos mudos
Eu coloco o CD de um herdeiro
Está quase fora de moda
Fui num show mentiroso
Noite passada
Dancei o que quer que estivesse tocando
Até ficar surda
Mas hoje eu acordo
E só penso nos desabamentos
Eu estou sozinha no mundo
Tenho poderes
Que ninguém conhece
Tenho uma solidão
Quase suportável
E mesmo que eu pule
De corpos em corpos
E mesmo que eu escreva poesias
E mesmo que eu faça o que me pedem
Ou até mesmo o que me mandam
Eu sei que a minha verdade
Está em um lugar que ninguém mais alcança
No orgasmo das artérias
No lugar de onde nascem
Minhas tremedeiras
Não há ninguém que possa
Enxergar o que eu enxergo
A beleza e a feiúra
A maldade e a bondade
Tão claras e intensas
Quanto a luz do sol
Ou a escuridão completa
É como se ninguém mais
Soubesse da verdade
Eu preciso voltar ao útero
Renascer o demônio
Cuja missão é salvar a humanidade
Eu preciso novamente compreender do que se trata
Então eu me deito
Hiberno, um urso em pleno verão
Semeando indiferença pelos corações
Já congelados e egoístas
Fracassados, perdidos
Como eu nunca vou me permitir
Eu retorno, colhendo as flores
Que os seres desta terra
Já não mais cheiram
Ou marcam presença
Álcool e açúcar
Aceitação, rejeição
Eu sei que existe algo
Que está acima de nós
Eu sei que nós possuímos
Um poder que desconhecemos
Eu sei que cada um de nós
Tem consciência
Do único poder que nos parece concreto
Todos sabemos
Que podemos cometer suicídio
Mas não entendemos o resto
Da mesma maneira
Cá estou
O corpo triturado
Estendido sobre a coberta
A desesperança
E os confeitos coloridos
Quero chorar
Pois sinto que não há volta
Pois me revolta a insensatez dos homens
Pois não admito a desistência de todos
Pois não compreendo que não lutem
Pelo que possuem
Pelo que são
Escrevo mais um pouco
Deixo a racionalidade
Me tomar o sangue
E tudo ir se esvaindo aos poucos
Até que eu volte a ser
Pura depressão
Em meu mantra de todos os segundos
Eu vou ficar bem
Eu não vou me matar
Eles nunca terão razão

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