domingo, 11 de outubro de 2015

Hospedagem de sábado

Estou em cada rejeição esquecida no caminho
Estou em cada segurar brusco de quadris
Estou nas constelações formadas no pescoço
E no atraso, e nas dores de cabeça
E na dormência da língua
Que passeia entre bocas alheias
Estou no filme evitado
Por causa do que doi nas lágrimas
Estou no exagero do toque
Em espaços que não deveriam ser invadidos
Estou no lixo asqueroso abandonado no chão frio
Estou nas meias coloridas e no sapato surrado
Estou nos calos dos pés,
Na tensão dos ombros, nos olhos atentos
Estou nas cartas que retornam
Estou nas orações de fé turva
Estou na moeda de lados idênticos
Que pende acima do peito
Estou no subir e descer das pálpebras
Nos sorrisos promocionais
Estou nos encontros relatados
Nos planos para o futuro
Estou nas vozes que repetem
Estou na toxina dos teus cigarros
Estou nos teus pensamentos indecentes
Estou na agitação de todos os dias
Estou no nascer do sol
Em dia bruto
Estou no sangue lunar
Em noite de violência
Estou na liberdade da prostituição gratuita
E estou sempre presa à consciência
De que estou nos textos que te escrevo
Mais do que aqui no mundo
Eu digo a ela
Tento explicar o que acontece
Todo mundo sabe
O quanto sou volúvel e insana
Porque insisto em me colocar na tua cama
Projetando-me sobre o teu corpo
Nem Deus sabe das minhas intenções
Eu estou dentro de ti
Sei disso
Eu estou nos três quartos que tenho
Eu estou nas três salas de aula que adentro
Estou na perplexidade das pessoas
Perante a minha interpretação de coincidências

Eu estou simultaneamrnte
Em cada lugar que conheço
Estou nas casas que nunca mais vou visitar
Estou em tantos lugares
Bonitos, pavorosos ou desertos
Mas não estou aí
Não estou contigo
Apesar de estar, não estou
Nunca no teu caminho
Nunca na tua paz plena de espírito
Nunca nos arco-íris que que tu enxerga
Nunca nas paredes negras
Que você agride
Não estou contigo
E espero que isso não nos mate um dia
Se eu pudesse fugir daqui e estar contigo
Eu estaria

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