quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Inarredável, intrepidez

"Acho que não vamos nos falar hoje. Tudo bem."
Tudo bem? E quanto à minha saudade?
E quanto à minha ansiedade,
O que eu faço?
Tudo bem.
Não tem motivo pra estresse.
Não tem motivo pra agonia.
Eu sou absolutamente sã.
Não sou?
Meus dias,
Perfeitamente capazes de regozijo,
Mesmo sem a tua companhia.
Mas nunca sem teu espectro,
Tua inaparição reconfortante,
Nunca realmente sem tu.
Não que eu não possa ser feliz
Sem tua imagem decorando
O meu lobo occiptal,
Eu apenas já não sei desvencilhar-me.
Como abortar a beleza de si?
Não há razão.
É belo,
É fato
E da tua beleza não abro mão.
Se tua ausência me incomoda,
Pratico o silêncio dito.
Escrevo, datilografo, rascunho.
Meu punho direito estremece
Com o excesso de trabalho que lhe dou.
Respiro.
E todo o mundo que me cerca
Independe da tua presença.
E mesmo assim, estás presente
Em todos os objetos e seres
Do mundo que me cerca.
Tudo é tu, apesar de não o ser,
Apesar de não estar.
E se eu sorrir para a tua ausência,
Como se ela exemplificasse
A plenitude da tua permanência,
Todo o resto que agoniza se esvai.
Existe um mantra abstrato
Que se refere a quem eu preciso ser
E o que precisa ser feito,
E que funciona melhor sem títulos.
Porque agora o sei.
Sei como devo agir
E onde devo focar a minha reflexão.
O não-tu também é tu
E esta consciência me alivia.
Sei que parte do que compõe
Todo o ar que existe entre o cá e o aí
Materializa ou imaterializa
O fio ininterrupto e inexorável
Entre eu e tu.
Logo, há sempre companhia.
Logo, não há problema algum.
Logo, todo o silêncio conforta,
Todo sono é agradável,
E todo amanhã carrega consigo
A potencialidade do encontro de nós
Com nós mesmos.
Eu em mim, tu em ti.
E em parte, se esquece a dissociação
Entre os dois seres.
Sublime se faz a noção da eternidade.

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