segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Porcelana e mercúrio

Eu fumo um pouco,
Eu bebo um tanto,
Eu deixo pra trepar
Semana que vem.
E vem ano novo,
E vem natal,
E vêm férias de janeiro.
Eu vou sair no próximo
Final de semana
E no outro
E no seguinte.
Halloween, aniversário,
reencontro com alguém do meu passado.
Eu sei que tudo isso está errado.
Eu sei que quem espero nunca vem.
Eu sou é louca. Completamente louca.
Mas quem se importa nunca me sacia.
Eu preciso de sexo, mas também de agonia.
Então procuro
Mais uma festa,
Mais uma farra,
Mais uma noite pra não dormir direito,
Mais uma febre - resmungo do meu corpo.
Procuro mais um canto pra encantar os sentidos
E esquecer da dor que tanto me lembro,
Que nem sempre tem nome ou endereço,
Que nem sempre existe de fato
E se esconde debaixo de quem nem conheço.
Me poupe
De mim mesma.
Já não me aguento mais,
Por isso fujo.
Bebo e fumo mais um pouco.
Agora vou trepar - mato a saudade - porque estou mesmo na idade.
Nunca é tempo para ser amada.
Nunca é tempo de quase nada.
Nunca é tempo de ser feliz
Como eu tanto quero,
Como eu sempre quis.
Volta, Isabel, que a gente te precisa
Pra sei lá quem nunca dar o tiro da partida
Pra gente ficar aqui e não sofrer demais.
Sai, faz bagunça, vende sonhos, compra com ouro de tolo.
Tudo isso, você sabe, está errado.
Mas enquanto o futuro não vem,
E não vem, nunca vem,
Dança, desce, gargalha,
Metralha os realistas, os moralistas e os religiosos,
Cospe no lombo de todos,
Rasga a própria cobertura,
Carência explícita,
Sai de casa, faz alguma coisa.
Mente, mente, mente, mente, mente.
Mente por todos nós, Isabel.
Nós te amamos.

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