segunda-feira, 16 de março de 2015

Cinza, terra

Põe um cigarro na tua boca.

Quero te ver assim, manchado
pela nuvem de fumaça que te afaga.

Traga, suga essa cor cinza pra dentro de ti.
Carboniza.
Como hei de sugar-te um dia.

Encara-me naquele sussurro de morte.
Adoro. Venero-te enquanto veneno.
Aprendi assim.

O que me deste era o que te doía.
Eu gosto disso.
Gosto daquilo que doi
e não do teu amor.

Vem. Me rasga as roupas.
Me queima com a tua raiva.
Me puxa pelos cabelos.
Me odeia, me odeia.

Assim tu sempre podes me deixar
(eu vou lembrar-te sempre nos meus hematomas).

Não inventes,
que prefiro-te fraco.
Nu e sujo.
E o desprezo escorrendo dos lábios.

Fuma o teu cigarro esnobe,
como eu o faria.
Sopra o teu desgosto nos meus pulmões.
Polui.

Recito que não te amo,
aceito tuas unhas todos os dias.
Não me ponhas no mesmo lugar
que as tuas margaridas.

Sou terra e apenas terra.
Não me caves muito a fundo, por favor.

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